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As três senhorinhas e a amizade

            No Setor de Clínicas Sul há um self service com comidinha saudável e suco de fruta natural. Um almoço sem luxo, mas bem a mão, rápido, para quem está por ali aproveitando o intervalo do almoço para alguma consulta. Sentei-me à mesa de quatro lugares, onde já estavam três senhorinhas. Um mosquito inconveniente acabou sendo o mote para iniciarmos uma conversa sobre amizade e Brasília.
            Elas não perguntaram o meu nome e nem eu o delas. Mas a senhorinha à minha frente, bem vestida, óculos escuros grandes, fala pontuada e gramaticalmente correta acabou por revelar que é viúva e mora no Lago Sul. Disse ter nascido na Bahia, ter morando muito tempo no Rio a ponto dos filhos serem torcedores do Botafogo. Mas garantiu sentir-se em casa mesmo em Brasília, onde mora há mais de 40 anos. “Não tenho mais amigos lá”, justificou.
A senhorinha de cabelos brancos, meio corcunda, sentada ao lado dela, também é viúva, mas nasceu em Minas Gerais e mora no Lago Norte. Não sei o motivo, mas acabou por reclamar de Brasília. “Moro aqui há um século e não faço amizade. Só tenho essa amiga aqui”, disse apontando para a senhora magrinha, baixinha, sentada ao meu lado e que não disse nada. Nem sobre ela, nem sobre o tema da nossa conversa: a amizade.
A senhorinha do Lago Sul discordou da senhorinha do Lago Norte. “Não acho, não. Brasília é muito bom para fazer amizade! Os meus vizinhos sempre me convidam para as suas casas”, revelou. A senhora mineira imergiu nas desculpas, disse que quase não sai, não vai a restaurantes e começou a falar dos filhos, dos assaltos às casas em Brasília...
Antes de me levantar da mesa e pagar a conta, me despedi das três senhorinhas:
-  Vejam só, vocês acabaram de iniciar uma amizade e nem perceberam!

Elas riram e continuaram lá, papeando...

Aprendi que amizade é fácil de iniciar, mas é difícil de ser mantida. É preciso cultivar, dar um freio no corre corre diário e reservar atenção aos nossos amigos. Assim teremos momentos preciosos para relembrar na velhice.  

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