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Caminho de pedrinhas



Eu fui fazer uma entrevista na Embaixada da França sobre o intercâmbio de estudantes brasileiros para universidades francesas. Não tive muito tempo, mas como fã de Le Corbusier e da filosofia arquitetônica que influenciou Lucio Costa e Oscar Niemeyer não deixei de contemplar por onde passei. A beleza está ali, ao mesmo tempo singela e exuberante. 

O prédio baixo, em formato de cruz, da embaixada segue a linha do concreto armado que padronizou a arquitetura de Brasília na década de 1960. O projeto ofereceu aberturas generosas para iluminação natural e a ventilação, mesmo princípio traduzido nas superquadras do Plano Piloto. Por entre os vãos da construção, o verde de um jardim bem cuidado.
O chão é de pedrinhas fixas de cascalho brasileiro – desses que você encontra no fundo dos riachos de Minas Gerais e do Planalto Central. A sensação é de puro contato com a natureza. Até parece que você está andando pela calçada de uma praça ou de um jardim. Juro, tive vontade de tirar as minhas botas desconfortáveis e de pisar ali para sentir a energia das pedrinhas e a graciosidade da ideia do arquiteto.
Mas logo voltei à tona ao dividir minha contemplação. É que o caminho de pedrinhas não é prazeroso para as mulheres que adoram salto. “Eu desisti do salto fino que estraga com essas pedrinhas. Só uso plataforma”, disse a funcionária da embaixada que me acompanhou até o entrevistado. "Ah", pensei. "Claro, imagina as autoridades da diplomacia de tailleur Chanel e Louboutin passando pela trilha  de pedrinhas...'', continuei pensando. "De salto, elas fazem escorregar...'', respondeu a funcionária, meio que adivinhando meu pensamento. 
  



Eu ainda tive tempo de folhear um livro na sala do conselheiro de imprensa. O Projeto da Embaixada da França tinha sido entregue a Le Corbusier, mas com a morte dele em 1965, coube a um dos alunos, o chileno Guillermo Jullian de La Fuente, cuidar do desenho arquitetônico seguindo os ensinamentos do mestre. Somente 10 anos após a morte de Le Corbusier, a Embaixada da França seria inaugurada em Brasília. E as pedrinhas estão lá, desde então, preenchendo um caminho de boas-vindas. 
Eu, que não estava sobre o salto de um Louboutin, voltei à infância ao passar pela trilha do arquiteto e tive saudades da paz que encontrava ao catar aquelas pedrinhas no fundo dos riachos que cortavam a fazenda do meu avô.  
Obrigada, Le Corbusier!

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