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Viagem histórica com as crianças



            Férias com crianças em idade escolar é para descansar e, por que não aprender um pouquinho da nossa história? A cidade escolhida foi Ouro Preto, em Minas Gerais, a preciosa Vila Rica que reinou absoluta na época do ciclo do ouro no Brasil. Essa parte da história está no livro do 3º ano do ensino fundamental das minhas filhas. Nascidas em Brasília, uma cidade com traçados e prédios da arquitetura modernista, estava difícil para elas entenderem o que era chafariz, ruas com paralelepípedos e casario colonial.
            Então embarcamos rumo ao passado. Contratamos um guia, o Zé Maria do Espírito Santo, filho de escravo alforriado pela Lei do Ventre Livre. Nascido numa fazenda ao redor de Ouro Preto, ele diz ter estudado história da arte na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). É um apaixonado por Aleijadinho, as igrejas em estilo barroco e a história da cidade. Dois dias ele nos acompanhou pelas ladeiras e visita aos monumentos.
Não fosse ele, teria de ter lido mais para aprender tanto em tão pouco tempo. As dicas foram boas, as crianças adoraram e se inquietaram com as sepulturas dentro das igrejas, inclusive a de Aleijadinho. Pena que nos livros de história aprendemos tão pouco sobre esse grande artista e a sua genialidade. Aprendeu o ofício com o pai, português, mas diferenciou-se na irreverência, nas particularidades que registrou em suas obras.
Imagens com dois pés direitos, um braço mais comprido, o Cristo na cruz com marca de enforcamento...  homenagem a Tiradentes, que era membro da maçonaria como ele.  “Aleijadinho não tinha lepra, mas uma doença chamada Porfírio”, explicou Zé Maria. Para esconder a doença que lhe corroeu os dedos das mãos, usava roupas compridas e o sofrimento e a crítica que recebia da sociedade aparecem nas suas obras. A beleza acaba por esconder a sutileza das imperfeições humanas.
Claro, era informação demais para duas crianças de oito anos, mas elas puderam almoçar num restaurante construído em antiga senzala, se hospedar num casarão colonial, andar pelas ruas estreitas e íngremes asfaltadas com pedras irregulares. Entenderam o valor histórico da cidade e o motivo que está tombada como patrimônio da humanidade pela UNESCO. Conheceram Gabriel, artista local, de quem comprei dois anjinhos bochechudos e de boca fechada esculpidos em cedro – uma arte que imita Aleijadinho.
            Três anjinhos formando um triângulo, símbolo da maçonaria, era uma espécie de assinatura de Aleijadinho. Entre tanta riqueza, a Igreja São Francisco de Assis, idealizada pelo próprio Aleijadinho e com pintura no teto do mestre Ataíde, que fazia Nossa Senhora mulata. São imperdíveis também as visitas às igrejas Nossa Senhora do Pilar, entre as mais ricas em ouro do Brasil, e Nossa Senhora da Conceição, onde está o túmulo de Aleijadinho, e o Museu da Inconfidência, onde se encontram os túmulos dos inconfidentes.  Menos o de Tiradentes, cujo corpo esquartejado não se sabe onde foi parar.

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