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Olhos bem abertos



Foto: Rovênia Amorim
Continue sentado aí. A história que vou contar leva apenas dois  minutos e 42 segundos. Eu cronometrei. Comprei duas mudas de uma planta com flores brancas perfumadas e que não faço ideia do nome. O jardineiro veio e pedi que escolhesse dois lugares de destaque para as novas aquisições. Antes da meia-noite, lembrei-me de que não havia chovido e minhas novas flores deveriam estar morrendo de sede. Lá fui para o jardim na missão de salvá-las. 

- O que esse edredon está fazendo aí, perto da piscina?
Era o Beto, o marido 007 nessa história. 

- Não faço a menor ideia. Deve ser coisa do esquecimento da Maria. Ela sempre apronta. 

Ele veio atrás, incomodado com o edredon. Será que alguém entrou na piscina e usou o edredon para se enxugar? 

- Não sei. Será? Bom, depois a gente pergunta para a Maria.

Na volta para a casa, ela estava lá, dona do varal na área de serviço. 

- Você vai entrar? Ela é caçadora e pode te dar uma bicada. 

- Então não vou. Vamos nos sentar aqui na grama, olhar as estrelas e esperar. Ela vai embora...

Mas não foi. Ficava lá, olhando para nós e nós para ela. Nem reparamos nas estrelas. Era melhor dar um jeito. Beto 007 teve a ideia de pegar um banco, desses tipo tamborete, para passar e se defender da coruja. Isso mesmo, havia uma coruja no varal. 

- Se ela vier, eu a espanto com o banco. 

- Como assim? Você vai machucá-la! Melhor não. 

O melhor era pensar como o MacGyver. Ele sempre tinha uma solução para tudo. Falei da minha ideia genial:

- Vamos acordar as meninas. Batemos na janela, elas abrem e nós pulamos para entrar. 

Não foi fácil executar a minha ideia de gênio. Elas têm sono de pedra. Enfim, uma acordou:

- O que vocês estão fazendo aí de fora? 

- Depois explico. Você pode abrir a janela para a gente entrar?

Coitadinha, com sono, ela cumpriu com excelência a missão. E quem disse que eu conseguia pular a janela? Precisei de uma ajuda básica, aquele calço feito com as mãos do Beto 007. Deu certo, eu entrei. Subi em disparada pela escada que dá acesso ao meu quarto. Precisava da máquina para fotografar a coruja. Equipamento nas mãos, materializei-me na cozinha. Abri um pouco a janela, o Beto 007 atrás de mim:

- Você vai disparar o flash? Ela pode levar um susto e te atacar! 

- Será? Ah, mas quero muito fazer essa foto... Vou arriscar.
Três flashes e a coruja virou a cabeça, encarou-me. Fechei a janela rapidamente. 

- Está tudo explicado. 

- O que está explicado?

- O edredon. A coruja carregou o edredon porque queria ficar com o varal só para ela ou então planejava construir um ninho...

- Não viaja 007. Ela jamais ia conseguir carregar um edredon!

- Claro que sim. Elas são caçadoras, carregam as presas com as garras. Não é com o bico, não...

- Ainda não acredito. Acho que foi esquecimento da Maria. Amanhã pergunto.

Enquanto isso a Clara estava lá, olhos espantados, bem abertos, como os da coruja do varal, sem entender nada de nada. Por que vocês precisaram me acordar no meio da madrugada e pular a janela?

6 comentários:

  1. [risos...]

    Será que essa coruja não queria somente se enxugar, pendurada lá?

    Ótima sexta para você!

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  2. Ai! Ai!
    Elas gostam de roedores, há algum por ai, tipo de madrugada na geladeira ou assaltante de panelas...rsrs
    Tensão mesmo e emoção ao mesmo tempo.
    Linda ela!
    Deve ter ido pelos ares da sabedoria :)
    Respeito, estratégias, afeto, flores, paz, bem e sabedoria a nós mulheres todos os dias.

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  3. Que coisa hem? medo de uma corujinha indefesa ... rs
    o máximo que podia acontecer era ela se assustar com esses dois seres 'estranhos'e voar ... kkk
    E ela ficou muito bem na fita _ o flash pode ter deixado os olhos assim avermelhados- adorei !
    Aprendestes né Rovênia que coruja não avança , ela pia com medo ... rs
    beijinhos Rovênia e bom fim de semana.

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  4. Lindo! e hilário parece até minhas aventuras com minhas meninas rssss
    e a foto registra esse "acontecimento" que será lembrado entre sorrisos.
    Passei para te desejar um lindo dia Internacional da Mulher, afinal somos flores aventureiras o ano todo...rss
    beijos
    Joelma

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  5. Rovênia, kkk! Mal comparando, um primo meu recém casado mora em um condomínio fechado em Manaus. Imagine que com o mesmo romantismo de vocês eles encontraram uma onça na área de serviço do condomínio. O pior é que os filhos ainda não nasceram e eles não tinham quem abrisse a janela.
    A diferença é pequena, mas o medo é o mesmo, kkk!
    Um abração
    Manoel

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  6. Rovênia, achei super interessante a sua postagem e acabei me esquecendo que passei aqui apenas para parabenizá-la pelo Dia Internacional da Mulher. Não podia me esquecer dessa amiga ativa e politizada. Hoje eu vou dar um beijo escondido (você merece e não conte prá ninguém, kkk).
    Beijo com carinho no seu coração
    Manoel

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