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A partir de nós

Imagem: Pinterest


A dúvida é um obstáculo que criamos, que criam para nós, que nos atrapalha e que inquieta e entristece os demais. 
Por isso, o melhor presente que posso oferecer a vocês são esses pontinhos de brilho que, somados, rendem uma constelação de certezas, impregnada dessa magia que transforma a inércia em movimento e nos faz sorrir pura e serenamente e repartir a nossa alma a quem está por perto. 

Alguns chamam essa soma de certezas de fé. Eu prefiro chamar de amor. Um amor imenso, de paz e de alegria, que nos conduz a um Deus aconchegado dentro da gente. E ao desembrulhar esse presente, esquecido por nós em um canto de nós mesmos, não resta dúvida, apenas a certeza  infinita de que um novo mundo é possível porque fomos capazes de acreditar. Então, nesse momento, a mudança tem início.  
A partir de nós. 



Feliz Natal a todos que passarem por aqui e um Ano-Novo que multiplique o milagre das certezas!

À flor da pele



Fui à espera de nada e tive o privilégio de ouvi-los um pouco.Ganhei muito. Donos dos dias adiante, e de uma inteligência que nos respinga. Não fazem diferença a cor, a renda da família, as dificuldades e as facilidades até agora. É tudo que no começo, já posso concluir.

Dia 21 de outubro, às 14h30,  apresento as preliminares da minha pesquisa em Goiânia. O tema é a equidade no Programa Ciência sem Fronteiras. Estão todos convidados!

Proibido de ler



"Sempre imaginei que o paraíso será uma espécie de biblioteca."
Jorge Luiz Borges


Há situações que me revoltam profundamente. Não sei o nome do ascensorista, mas conversei com ele algumas vezes por conta dos livros que sempre lia no monótomo sobe e desce entre os nove andares.

- Esse não li. É bom?

- Quer emprestado? -

Ele sentia-se menos invisível por conta dos livros. De uns dias pra cá, achei-o triste, sem livros nas mãos e quis saber o motivo.

- O meu chefe me proibiu de ler no elevador...

E ele trabalha no Ministério da Educação! Contradições de uma realidade brasileira cruel. Absurdos sem explicação.

Ensinar a gostar de ler ...

... é o que a querida Rute faz. Obrigada pela carinho no post.



A todos que passarem por aqui mil desculpas pelo sumiço. O "trem" anda apressado e estou com saudades até de mim!





Bom fim de semana!





Gotejar de poesia



"A vida neste mundo só nos dá prazer
Fico muito triste em lhe ver sofrer" (Manacea da Portela)


Embora não seja verdade, o mundo nem sempre nos dá prazer,
o verso mostra a alma do poeta.
Se não houvesse poesia a escapar da alma das pessoas,
nem esperança nos restaria.
A alegria vem desses gotejos. Contagia, nos faz cantar, nos faz sorrir.


Que o fim de semana seja contagiante!

Delicadeza


Tento entender o poder contido nas linhas deste e dos blogs que visito. Do outro lado estão pessoas que não conhecemos pessoalmente, mas que por meio das palavras escritas vão-nos relevando seus sonhos, suas verdades e suas almas.

É possível traçar o perfil de muitas delas, do que gostam, se falam mansa ou apressadamente, o carinho pelos filhos, netos, o jeito caprichoso pelo bom gosto da composição à mesa para um bom dia, pelo dom da fotografia, pela busca da filosofia da vida e do amor, pelo apreço das molduras do céu.

Nessa nossa troca diária, sempre que possível, de palavras aprendemos muito, nos divertimos e nos emocionamos. Como diz um escritor amigo, quando o carinho é demais, nos cala. Ficamos sem jeito e sem palavras. Como retribuir o carinho da Solange? Sei que é dona de uma alma grandiosa, que brilha através desse mundo virtual e nos aconchega vivamente. Sei ainda que é dona de um talento que se revela nos detalhes do seu artesanato.

Fotos: Rovênia Amorim
Nesta última terça-feira, à tarde, chega, aqui no meu trabalho, um pacotinho de presente, enfeitado com tulipas de feltro.  Dentro uma necessaire de palavras escritas, poás, botões e um gatinho de olhos pretos perfumado. Como retribuir a tanto carinho?

É o tipo de presente que traz junto um pedacinho da própria alma da autora. Alma que ela coloca em todas as suas criações. E essa sensibilidade artesanal emociona-me tanto quanto os melhores versos. Nem a Solange sabe, mas ando pelas ruas de Brasília com uma "Biloska" sorrindo pra mim. Clique aqui para conhecer o blog da querida Solange e o seu trabalho.

Nossos passos

Internet
A materialidade não tem o mesmo ritmo do movimento da consciência. Calmem, vou explicar isso. As crianças chegam aos pais quando eles, de maneira genérica, a julgar por mim, não estão  plenamente preparados para apresentar-lhes o mundo real e das ideias. 

Escravizados pelo trabalho e pelos estudos, em busca de um aprimoramento continuum, aos pequenos sobram migalhas de tempo. Inventa-se então que a qualidade do tempo é o que interessa, numa espécie de terapia convencional, de perdoarmos a nós mesmos. Criança requer investimento de tempo e quanto mais, melhor. Essa é a verdade que nos escondem. 

O problema é que percebemos isso quando boa parte da infância deles já se foi. Ideias e originalidades que não vimos ou podamos na nossa pressa improdutiva. Por que o movimento da vida não nos permite ter sabedoria aos vinte anos?  O que nós, no nosso egoísmo diário, cortamos de sonhos que poderiam ser concretudes reais hoje?  

Penso que a maturidade nos traz uma sabedoria que nos força a curvar sobre nós mesmos, em lição de humildade, para que possamos olhar, calmamente, nossos próprios passos. 
 

Bullying atual


Dá para escrever rapidinho o pensamento de agora há pouco. E sem medo de errar porque o computador ajuda a desmanchar. Ooops ...ajuda a de-le-tar. Estava pensando sobre as bobagens que nos apressam tanto e como era bom o tempo em que se precisava de pouco para acertar.

Antes, até ligar para uma pessoa era um momento especial. Tínhamos palavras guardadas e doidas para emocionar. Telefone em casa era luxo e o orelhão da esquina era um serviço público. Abrir uma carta entregue pelo carteiro, reparar o contorno trêmulo e caprichado das letras, o cuidado para não rasurar o papel. Hoje, só há contas a pagar na minha caixa dos correios.

Eu, confesso, fiz aula de datilografia na adolescência para aprender a escrever à máquina. Era uma espécie de terapia que não funcionava nunca. Eu ficava sempre ner-vo-sa e errava os dedos das teclas. Não se podia errar de jeito nenhum. Cada erro era a prova de inabilidade e a moça fazia uma cara de brava, de que não havia futuro pra mim. Depois inventaram a fita corretiva e foi então permitido errar sem ter que embolar o papel e começar tudo de novo. Eu adorava essa fita corretiva.

Hoje o mundo é outro e essas coisas do passado, minhas e de outros, são memórias de museus pessoais. Precisei de uma sacudidela de uma das minhas filhas para cair nesse nosso mundo real, e reduzir a velocidade antes de levar mais uma multa.

- Mãe, estou sofrendo bullying na escola.

- Como assim? Por quê?

- Estou me sentindo discriminada porque sou a única da sala que não tenho WhatsApp ...
...
 - Mãe, mãe! O semáforo já está verde!


Sob o guarda-chuva

Pinterest
O amor de toda uma vida, às vezes se esconde perto de nós. Não surge à primeira vista, mas é caprichoso, como se brincasse de esconde-esconde.

Gaspar chegou à Ana Maria num dia de chuva. Ele passava, quando a viu encolhida dentro do carro, olhando os pingos grossos por pura falta de opção.

- Toc, toc!

Ela baixou o vidro, em meio ao susto, e ganhou o convite.

- Aceita uma carona?

Surpresa, Ana encantou-se pela simpatia do colega de trabalho, cavalheiro que até então nunca reparara. Seguiram sob o guarda-chuva, driblando os pingos e conversando qualquer coisa. Os corações já pulsavam em outro ritmo.




Morar


 "One step, two..." ilustração de Roger Duvoisin.



Ando colecionando frases perdidas. Preciosidades que as pessoas falam e não se dão conta da grandiosidade filosófica. Num dia desses, uma das pessoas mais calmas que conheço, que parece frear o tempo e adestrá-lo ao seu prazer, disse-me que é preciso morar...

Nesses nossos passos tão apressados, precisamos reaprender a andar e a ver o mundo que nos escapa.









 Bom fim de semana!





Tempo para as histórias

"E quem te disse que alguém quer ouvir a sua história?" 


Ilustração: Marika Maijala

A frase pescada no meio de uma conversa longa foi o que ficou.  

As pessoas, de maneira geral, não estão interessadas em ouvir as histórias dos outros. Vivem no mundo das histórias pessoais, narradas por elas a ninguém e caminham por esses mundos individuais que se cruzam, mas não se comunicam. Se as pessoas prestassem atenção às histórias dos outros teriam enredos inesgotáveis para contar. 


Nesse mundo de superficialidades, de aparências e de evidências, as histórias pessoais não mais interessam? Será preciso anunciar? Eu tenho uma história para contar, mas antes que você diga que não quer ouvir, eu sento-me aqui para ouvir a sua.  Pode começar ... 

Espreguiçar de alma




Pinterest





É sempre muito bom 
ler um pouco ao acordar, 
antes de levantar da cama 
e espichar o corpo.
As palavras absorvidas 
antes do café da manhã 
fazem borbulhar 
o primeiro pensamento do dia. 
É o meu espreguiçar de alma. 


Domingo 03/08/2014

Boa semana!

Gosto de tristeza

 A Jangada de Pedra de José Saramago. 
Há lugares que as palavras doces não cabem. O rio corria manso em suas águas escuras. Os dois jangadeiros empurravam o deslizar e sorriam por ouvir o guia contar novamente a história daquele lugar a estranhos interessados. A felicidade deles me fez pensar no quanto somos todos orgulhosos do lugar de onde o mundo nos surgiu...

Olho para as ostras que crescem sobre os galhos fincados em tripé na vegetação do mangue. Nunca tinha visto aquilo que para aqueles três homens era uma banalidade. Demorou para chegarmos à Telinha. Ela estava à margem, dormindo. O barulho das vozes a despertou e curiosa pôs o focinho para fora d'água e respirou. Aproximou-se da nossa embarcação, mostrou-se e voltou mansamente para a margem.

Nem sabia que existe peixe-boi fora da Amazônia. Mas há essa outra espécie, ainda mais ameaçada de extinção. O peixe-boi marinho difere do amazônico porque consegue nadar do mar para o rio, onde a fêmea tem os seus filhotes. Existem apenas cerca de 500 como Telinha. Antes da consciência chegar ao lugarejo, esses mamíferos aquáticos eram caçados e sua carne vendida em açougues.

- Muita gente comia peixe-boi achando que era carne de boi. O gosto é muito parecido!

A explicação do guia causou-me um gosto de tristeza. Olhei para a margem onde Telinha dormia. Será que o guia já comera carne de peixe-boi? Não perguntei e tentei entreter-me a olhar os caranguejos que, ao entardecer, arriscavam-se a sair dos seus buracos nas margens do rio. (Rovênia Amorim)

A intrometida


Ilustração de Luiz Telles
As palavras tiraram-me do ar por uma semana. Escolhi-as por uma trilha à esquerda. Certa de que estava no caminho correto, fui colhendo o que aparecia pela frente. No ponto final, a mais sábia de todas nem perdeu o tempo em olhar-me. No único gesto, entendi que o percurso acertado era o outro. 

Respirei e dei o primeiro passo na outra direção. Recolhi outras palavras que pensam bem diferente. Cheguei ontem, às 20 horas imprecisas, ao novo ponto final. Pendurei o texto e nem esperei que ela se aproximasse para ler. Se havia ainda outra direção, não vi.  






Ai, palavras, ai, palavras
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai palavras
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma.
Sois de vento, ides no vento,
e quedais com sorte nova!

Cecília Meireles

Percepções



Pintura de Judith Geher 



Menina mais boba. Debaixo do tamarindo, feria o céu da boca de tanto insistir em tirar o azedo da fruta. Cresceu e hoje se encanta com quem antes de esticar os lábios, sorri com o olhar.

Menino mais bobo. Debaixo do tamarindo, feria a alma de tanto insistir em ver o azedo no mundo. Hoje, afunda-se nos versos e morre toda vez que alguém se encanta por sua dor.



Lar, um doce lar!

Faz tanto tempo que a falta dele me afastou daqui que nem sei por onde começar. Talvez pelo ipê que floriu-se de rosa e só tive tempo de tirar uma foto limitada que não imita beleza e não rouba perfume. Presentes que apenas viver permite. 

Li tanto, escrevi tanto e não será o suficiente, mas invadiu-me as palavras felizes quando ouvi você me contar que leu o que li faz tempo. Sorriu-me ainda mais a alma ao saber de outras páginas que conhecestes antes de mim. Se pudesse aventuraria-me nesse instante pelas mesmas linhas, mas tenho outras a preencher e a percorrer.

Tive pouco vento, tive pouco sol, não me despedi do dia, não saudei a noite. Era tudo um continuum. Passei a correr de salto, a emagrecer sem dieta, a ignorar o redor.  Chorei no auge do cansaço ao me oferecerem uma exclamação e uma interrogação. 

Dias desses tive tanta vontade de vir aqui só para repetir o repente que um senhor cantou-me no elevador. Mas fugiu-me o tempo novamente. E eu, que sempre achei impossível gostar de uma Margarida, apaixonei-me de vez. Todas as manhãs, sou a primeira a afagar o seu pelo tigrado e a oferecer um pouco de leite frio para acalmar o seu miau. Voltar à rotina é um lar, um doce lar!





Beleza de se ouvir


Ilustração: Valéria Docampo, do Livro A Grande Fábrica de Palavras
Há belezas doces de se ouvir. Hoje escutei uma delas e vim aqui compartilhá-la com vocês. Veio de uma acadêmica, que pratica o verdadeiro conceito de educar. Agradeceu por ter aprendido para quem ensina e na sua grandeza de humildade disse-nos que a sabedoria está no que é simples, sem luxo, sem frescuras. E deixou-nos, com um sorriso impresso na alma, um princípio de amizade leve, de compartilhamento de saber, de espanto diante da vida, do direito e dever de sonhar e acreditar!



 Ainda vou ficar ausente por mais uns dias, mas não os esqueço. Carrego-os como amizades que nasceram do encanto das tantas palavras escritas e lidas. 

Carreguem felicidades! 



Cochichos de mar


Olho para um lado. Ninguém. O que também não faz diferença. Perco um tempo ainda a olhar para essa direção. Não há nada a se ver. Levanto-me então, passo as mãos pela minha saia, tiro os grãos de areia que grudaram no tecido. Fico assim, distraída em mim. Sinto o vento embaraçando meus cabelos e um frio eriçando a pele. Deve ser hora de ir embora. 

Olho para o outro lado. Alguém. Longe, quase sumindo do meu olhar. De perto, daria para ver suas tristezas e suas alegrias esculpidas no rosto. Se caminhasse, chegaria lá. Há ainda raios de luz, teria esse tempo, mas não tenho é vontade. Escrevo daqui, mentalmente, sílaba por sílaba a sua vida. É um pescador, sem peixe, que volta para o lar. 

Olho para a frente e há uma imensidão azul que balança. Esqueço a história anterior e tenho vontade de entrar no mar. É um oceano cheio de segredos. Ouço as palavras que cochicham, mas não consigo decifrar os sentidos. Tiro os chinelos e dou passos na areia que afunda. Aproximo-me, mas elas se afastam, ressabiadas, e se escondem na negritude das águas. Já não há mais um fio de luz. Elas lá, caladas, e eu aqui, abraçando a ilusão de apanhar um pouco do que diziam. 





Sabedoria



Artwork by Ty Wilkins


Gosto tanto de vê-lo movimentando esse palito de dente pelos cantos da boca. Faz isso sem perceber o automatismo. Seu olhar está centrado no canivete, que segura com a pele grossa das mãos. O palito vai de um lado a outro na boca, enquanto deixo-me embalar pelo corte preciso do gume e o barulho do descascar da cana. O cheiro é bom. Uma mistura de suor honesto e do doce que suga para remediar a alma, após cuspir no chão de terra arfante o palito úmido. Inspiro gradativamente até não aguentar mais, numa avidez ingênua por aspirar esse seu tempo despretensioso, de quem não busca por já ter encontrado.  Desvio o olhar por uma bobagem que nem sei e, assim, por um nada, perco-o para sempre. 

Dádiva


Como não se incomodar diante das desigualdades neste mundo? 

Não sou a única. Precisamos sair do nosso comodismo!





Contexto



White roses/ Van Gogh


Um friozinho sopra todas as manhãs e ao meio dia esconde-se do sol. A menina pisou em dois grilos verdes e mortos, quase em dias seguidos. 

O menino nunca viu marmelo,cheirou ou experimentou a fruta, mas diz que gosta de doce que não seja marmelada. 

Nexo precisa de contexto ou é o contexto que precisa de nexo? Que flor descolorida é essa que clama uma gota de perfume? 

Se o vento que sopra é de maio, é ela que precisa chegar de repente, antes que passe o tempo. 



A evolução...


Miró: Woman before the luna, 1974


Não queria entrar na polêmica, mas ficar fora dela é algo que não cabe em mim. Somos todos macacos! Não, Neymar. Cientificamente é errado afirmar isso. Macacos e homens tiveram um ancestral em comum. Não evoluímos como espécie, portanto, a partir do macaco.

Porém, discordo que somos todos racistas. Eu seria racista por quê?  Não reparo na cor, reparo na inteligência. Foi assim que me apaixonei pela primeira vez. O meu namorado, por acaso, era negro. Mas poderia ser verde, lilás, listrado ou albino. Se o Brasil carrega racismo? Carrega. É visível. Infelizmente. Mas generalizações contêm equívocos, geram a própria discriminação. 

Se a mídia nos torna racistas? Não podemos esquecer dos grandes jornalistas negros deste país e sua luta abolicionista, entre os quais Joaquim do Patrocínio e Luís Gama. E outros tantos brancos, como Joaquim Nabuco.

Somos, sim, todos vítimas de preconceitos variados. Somos discriminados por sermos gays, mulheres, baixos ou altos demais, feios, bonitos, pretos, loiros, ruivos. Somos discriminados por sermos magros ou gordos demais, pelo nome diferente, por sermos inteligentes ou sabermos menos. Somos discriminados pela nossa formação, por nos vestirmos bem ou por nos vestirmos mal. 

Somos discriminados pelo local onde moramos, por termos vindo do interior, pelo carro que temos ou não temos, pelas roupas caras ou baratas que compramos. Somos discriminados por estudar em escola pública, em escola militar ou numa particular qualquer. Somos discriminados pela voz fina ou grossa demais, por sermos pessoas com deficiência, por usarmos roupa curta ou burca. Somos discriminados e discriminamos por sermos brasileiros!


P.S.: E temos a pretensão de querermos nos comparar aos macacos? Somos humanos, piores, portanto. Destruímos o planeta e, nem assim, vivemos melhor. Precisamos evoluir muito para chegarmos a macacos.  (Pensamento construído em discussão com meu amigo João Neto).

Semeando leitura

Ilustração de Virgínia Caldas


Pois me beijaram a boca e me tornei poeta
Mas tão habituado com o adverso
Eu temo se um dia me machuca o verso
E o meu medo maior é o espelho se quebrar

(João Nogueira)






Temos um blog, escrevemos, nos revelamos, mas nos escondemos também, não é? Já confessei, aqui, algumas vezes, a minha timidez. Nunca quis ser jornalista de TV por não gostar de falar, embora eu fale bastante. Tanto que quase não deixei a entrevistadora fazer perguntas. 
Se tiverem paciência, abaixo o link de uma entrevista ao Canal E, TV Educativa da Secretaria de Cultura do Distrito Federal. Um convite que me fizeram por conta do livro O caderno da Menininha. Assim, não me escondo de vocês! 

Segue o link da entrevista:


Bom fim de semana!

Palavra amiga



Ilustração de Mónica Carretero

Abraça-me, a tristeza
Favor fortuito, gratuito
Envolve-me, aconchega-se
Permite descobrir-me

Volto-me a ela, calada
isolada, tão lá no texto
um tão quanto num todo
sem vida exclamada

Fora dele, é toda dona
boba, que chora e canta.
Acaricio-a, pelo tempo
sem horas, apaziguo-me

Fecho os olhos,
choro duas lágrimas
Prezo assustá-la
E ela, com cócegas,
sorri-me, apenas


(*) Queridos, desculpa o sumiço. Sempre que dá, estou fazendo visitas, mas estou afundada nas palavras. Boa semana!

Tentação à prova


Experimentos em ciências sociais já foram feitos para mostrar o quanto o prazer pode ser adiado diante da perspectiva de recompensa em dobro. 

Divirtam-se!


Sem tradução



Foto: Renato Alves
A presença dos amigos não tem preço. Obrigada a todos que desembrulharam um tempinho no domingo e foram até a bienal de Brasília. Mas, emoção mesmo, foi ouvir a pergunta da linda menininha sentada na primeira fila e que,  imperdoavelmente, não gravei o nome. 

Após apresentar-me e contar uma história, deixei que o público interagisse e fizesse perguntas. A menininha levantou o dedo e quis saber:

- Quero ser escritora como você quando eu crescer. Como faço?

Qualquer coisa que eu escrever aqui não descreverá a minha felicidade naquele instante. As palavras nem sempre servem para traduzir sentimentos, não é mesmo?

Cliquem aqui para quem quiser ler a matéria publicada pela Agência Brasília, da qual a Clara, uma das minhas gêmeas, é a estrelinha da foto! 

P.S.: E como todos que participaram da promoção da postagem anterior não acertaram a resposta, o primeiro ou a primeira que comentar este post leva o livro. Ora, toda Menininha tem um nome, não é mesmo? 

Café Literário


Ilustração: Virgínia Caldas
Neste domingo, às 14h30, estarei no Café Literário Jorge Ferreira, na Bienal de Brasília, para lançar o livro infantil O caderno da Menininha. Fica o convite e a minha alegria em recebê-los. 

Das dez histórias da Menininha, a que mais gosto é a Zé Tinino. Ele era um doido do bem, que só queria saber se estava tudo bem com as crianças da rua. Até o dia em que um menino arriscou-se a dizer que não estava tudo bem. E então...

Bom, para vocês meus amigos aqui do blog, fica o desafio. Quem acertar, ganhará de presente o livro autografado. Qual seria o nome dessa Menininha? 

(   ) Menininha, claro!
(   ) Amélia
(   ) Rovênia
(   ) Só lendo para saber!


Bom fim de semana!

Ausência


Ilustração: Pinterest
As páginas sugam-na, fazem-na imergir cada vez mais profundamente. Segue atrás do que virá como quem é atraído por uma paixão e não pode, e não quer, se desvencilhar. 

Ele nota, mas não diz nada. Aguarda a volta, mas ela não emerge, aprofunda-se mais nas palavras que a confundem, que a desafiam, que correm e proliferam-se infinitamente. 

A curiosidade, a obrigação, o prazer afugentam o sono. O tempo, ao lado, pinga, pinga. Incômodo bem real.

Ele chega mais uma vez, não diz nada, deixa um sorriso silencioso. Ela vai-se mais uma vez.  Longe, ouve as gargalhadas, o barulhinho de quem brinca. 

Levanta-se para respirar, olha-se no espelho. Não responde ao que vê. Fecha, novamente, os olhos ao mundo.  

Nesses tempos

... de políticas incertas, esbarro nos versos literários. 
Deixo-os aqui, como pausas de um calmo balançar de pé. 
Um balançar que não se nota porque o momento é o do pensar.
Um pensar de tristes.  



"O poeta municipal discute com o poeta estadual
Qual deles é capaz de bater o poeta federal
Enquanto isso o poeta federal tira ouro do nariz"

(Política literária - Carlos Drummond de Andrade). 

Nova estação

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A pausa foi obrigatória. Diante do sinal vermelho, a senhora idosa vestida de um florido discreto sob a bênção de uma sombrinha azul em listras de tons, estendia a mão em passagem pelos carros. 

Pedia uma moeda, um olhar, uma misericórdia. Não tinha aparência de quem dormia na rua. Exibia cabelos brancos num dia sem vento e de tristes chuviscos. Escrevi a sua história: 

Ela viveria numa casa singela e honesta, filhos nas dificuldades da vida, netos para ajudar a criar. Na peleja de uma capital cruel por seus contrastes sociais, ela perdera há muito o orgulho e rezava à mendicância. Estendia a palma aos humanos como quem espera uma gota de esperança. 


Sem nada a oferecer, deixei-a ainda mais só, perdida na nova estação. 





  

Plena de nós


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"Educação não é privilégio."
Anísio Teixeira
Imagine a seguinte situação: um carretel em que você vai desenrolando a linha. Uma linha que nunca chega ao fim e que vai produzindo um emaranhado daqueles. Você nem acaba de desenrolar e precisa, ao mesmo tempo, começar a enrolar a mesma linha que, agora, corre o risco de criar nós. Não é complicado? 

Pois assim é a situação educacional no Brasil. As elites empoleiradas no poder agiram egoistamente. Proclamaram uma educação pública para todos, mas enganaram-na com modelos importados não condizentes com a nossa realidade, currículo amplo e vago e que não conversava com as necessidades produtivas do país. Criaram a escola de turnos com a desculpa de que, assim, com menos tempo de aulas, haveria mais vagas. 

Proclamaram um acesso democrático sob uma falsa universalização. O propósito real era de que as classes populares desistissem da escola no ensino secundário, antes de chegarem às universidades. Os filhos da elite estudariam em escolas privadas, com suposta melhor qualidade do ensino. Asseguravam-se, portanto, a imobilidade social e o apartheid, não declarado, nas escolas.  

A história mostra hoje, claramente, o tiro no pé que a elite deu em si mesma e no país. Prejudicou a educação de todos. O Brasil busca um lugar entre a pujança internacional, mas não tem condições de competir. Sem concorrência, a escola privada de nível médio não enfatizou qualidade e barateou a mensalidade para aumentar as matrículas. Continua desarrumada, com altos índices de evasão porque oferece um currículo enciclopedista e desconectado com a realidade.

A criação de duas escolas resultou em reprovação para todos. As elites astutas desconsideraram que as classes mais populares sonhavam também. Quiseram a mesma educação oferecida aos ricos por acreditarem que fosse a melhor chance a um futuro promissor. No egoísmo das políticas de exclusão, as classes dominantes afundaram elas mesmas e todo o país. Temos uma educação plena de nós.

Bom senso e direito

Imagem/Pinterest
A educação excludente e histórica no Brasil está encrustada no nosso cotidiano. Antes de sairmos de casa, é preciso engolir um comprimido de Passiflora para aguentar os maus exemplos jornada afora. Mas ainda assim serão necessários respirar fundo, contar até dez e relembrar as lições do catecismo para manter a civilidade sobre controle. 

A educação elitista desde os tempos da reforma pombalina em 1759 -  e a consideração de que "gente miúda não precisava educar-se para as lidas" - reproduzem nos nossos dias uma altivez nada nobre. Somos muito mal-educados e precisamos não só nos desviarmos dos abusos alheios como dar os nossos bons exemplos. Quem sabe assim não vamos ensinando novos comportamentos e nos salvando de amolações?

Dizem que Brasília parece cidade de primeiro mundo porque os motorizados param para os pedestres. Isso é verdade. Mas experimente dar seta para mudar de faixa. O motorista lá atrás vai acelerar para não te dar a vez. Então, deixo-o passar e depois, se der, pegue a faixa e entre no retorno. Se não, percorra mais alguns bons metros até o próximo retorno. Fazer o quê?

E a preferência do nosso jeitinho? Você está numa fila qualquer e chega a pessoa com o jeitinho brasileiro, que é o jeitinho de incomodar. Como se ele estive numa situação de mais pressa que a sua ou se a pergunta dele fosse tão rápida a ponto de não te atrapalhar. O problema é que o atendente te ignora para atendê-lo. Ou seja, a prioridade é para o jeitinho. Você que já esperou tanto que espere mais um pouco. Agora, vá fazer isso nos Estados Unidos, por exemplo. O atendente simplesmente não enxergará o jeitinho brasileiro a espalhar suas palavras bobas pelo ar. A prioridade é pra quem, de fato e por direito, esperou pela vez na fila. 

E o direito dos sexagenários, aposentados e em boa forma? Não apresentam sintomas de estresse nem debilidade que os impeçam de enfrentar as filas diárias. "Trata-se de um direito!" A exclamação é deles e a justificativa decorada. Contra a lei não há remédio. Mas a interrogação é minha. E o bom senso? As mães com crianças, que correm de um lado para o outro, e esperam aflitas pela diversão na fila do cinema? Pelo bom senso não deveriam ter a prioridade? Não, não tem jeitinho e nem direito na lei. 

De tudo que sei é que dar a vez no trânsito já é um avanço do bom senso. Sou capaz de parar o carro para fazer a gentileza. "Faça-me o favor ...".  Os mal-educados se surpreendem com a preferência concedida e levantam o dedão em sinal de agradecimento. E eu sorrio de dentro do meu carro. Entre o bom senso e o direito, salvemo-nos a nós mesmos nesse nosso furioso dia a dia. 


Boa semana!

Notícia boa!

Ilustração de Virginia Caldas
"O paraíso é uma infinita biblioteca."
Jorge Luis Borges


Feliz, feliz com a notícia! Meu singelo livro O caderno da Menininha está entre os 20 selecionados que serão lançados na II Bienal Brasil do Livro e da Literatura, de 12 a 21 de abril em Brasília.

Todos convidadíssimos a dividir essa alegria comigo! Quando tiver a data, aviso.

Aproveito para agradecer a todos que compraram o livro e escreveram em seus blogs ou me enviaram e-mail carinhoso. E quem ainda quiser a obra autografada, pode me enviar um e-mail, em particular.

Confira os autores selecionados para o lançamento de suas obras durante a II BIENAL BRASIL DO LIVRO E DA LEITURA:
1ContoOlivia Maria MaiaSe a Catraia Não VirarAutor
2ContoLuiz Humberto de Faria Del'IsolaHistória do povo de BrasíliaEd. Annabel Lee
3JuvenilWilson Mesquita de CastroO Bichano da BestaEd. Conhecimento
4InfantilRevênia Amorim BorgesO Caderno da MenininhaEd. Novo Século
5InfantilCarolina NogueiraA Rua de Todo MundoAutor
6InfantilLair Franca de OliveiraO Ciclismo Realizando SonhosEd. Thesaurus
7Arquitetura e UrbanismoJorge Guilherme FrancisconiPlanejamento e UrbanismoEd.Livre Expressão
8BiografiaJaime SautchukCrulsEd. Geração
9PoesiaRenato Matos dos SantosPalindromos Rimados e MusicadosSTARPRINT
10PoesiaJosé Alexandre Gomes MarinoExíliaEd. Dobra Editorial
11ReportagemHeron dos SantosMario Eugênio" O gogó das Sete"Autor
12RomanceVicente Geraldo de Melo NetoA Saga de Um CandangoEd. Baraúna
13BiografiaElvis Silva MagalhãesQuatro Décadas de Lua MinguanteEd. Vitrine Literária
14InfantilDinorá CoutoPaçoca de AvôEd. Ler
15JuvenilBárbara MoraesA Ilha dos DissidentesEd. Gutenberg
16RomanceAstrogildo MiagO Homem que morreu cinco vezesPalimpsesto
17ContoCinthia KriemlerSob os EscombrosEd. Patuá
18RomancePedro Sérgio dos SantosMaraçu não tem RemorsoEd. Ilumina
19PoesiaLilia DinizMundo de MundimEdições Lamparina
20ContoEugênio GiovenardiO Último PedestreKiron