Olho para um lado. Ninguém. O que também não faz diferença. Perco um tempo ainda a olhar para essa direção. Não há nada a se ver. Levanto-me então, passo as mãos pela minha saia, tiro os grãos de areia que grudaram no tecido. Fico assim, distraída em mim. Sinto o vento embaraçando meus cabelos e um frio eriçando a pele. Deve ser hora de ir embora.
Olho para o outro lado. Alguém. Longe, quase sumindo do meu olhar. De perto, daria para ver suas tristezas e suas alegrias esculpidas no rosto. Se caminhasse, chegaria lá. Há ainda raios de luz, teria esse tempo, mas não tenho é vontade. Escrevo daqui, mentalmente, sílaba por sílaba a sua vida. É um pescador, sem peixe, que volta para o lar.
Olho para a frente e há uma imensidão azul que balança. Esqueço a história anterior e tenho vontade de entrar no mar. É um oceano cheio de segredos. Ouço as palavras que cochicham, mas não consigo decifrar os sentidos. Tiro os chinelos e dou passos na areia que afunda. Aproximo-me, mas elas se afastam, ressabiadas, e se escondem na negritude das águas. Já não há mais um fio de luz. Elas lá, caladas, e eu aqui, abraçando a ilusão de apanhar um pouco do que diziam.